sexta-feira, 29 de junho de 2012

Meu amigo Domingos




Quem puder empunhar um exemplar de Novembro de 1998 do “Informador das construções”, da mesma forma que faço agora com o meu que guardo desde os 18 anos, poderá ver a foto que ilustra este post, encimada pelo texto parcialmente reproduzido a seguir:

“De forma inédita no mundo, a resistência e aderência da argamassa de revestimento usada na construção civil foram testadas em Belo Horizonte na quinzena passada. Idealizado pelo consultor e engenheiro Domingos Sávio Lara, o revestimento feito com uma única cerâmica na dimensão 16x16 suportou o peso de um veículo de aproximadamente 860 kg – que ficou suspenso durante alguns minutos, seguro por um cabo de aço colado à cerâmica.”

Quando resolvi guardar este número da revista, jamais imaginava conhecer o Domingos, tampouco me tornar seu amigo e muito menos usar sua cadeira na Companhia onde ele trabalhou tantos anos. Cadeira essa que já foi ocupada por nomes como Guilherme Gallo e Fabrícia Passos, grandes tecnologistas de concreto e amigos muito queridos. Mas o fato é que o tempo passou e fui conhecer o homem por traz da ideia maluca de pendurar o fusca na cerâmica, para demonstrar a resistência de aderência ao arranchamento da argamassa. E 14 anos depois daquele dia ele esteve no “meu” laboratório, nos mostrou as fotos originais do evento, e contou toda a história do teste.

Ele nos confidenciou que a ideia, além de chamar a atenção do “grande público“ para as marcas envolvidas no teste (uma empresa de argamassa para revestimento, uma de argamassa colante e uma grande construtora), ele também pretendeu fazer uma espécie de protesto velado contra os requisitos normativos que, segundo ele, são excessivamente exigentes no que diz respeito à resistência de aderência da argamassa. De certa forma eu concordo com ele e devo admitir que o protesto funcionou, porque depois disso já vi um monte de técnicos dizendo: “Ora essa, 860 kg, divididos pela área de uma cerâmica de 16x16 cm dá pouco mais de 0,3 Mpa”. Ok, é apenas o que manda a norma, mas puxa vida, a norma manda pendurar um carro na parede! No fim da história ele conta que, já no final do coquetel após a apresentação, o pessoal resolveu levantar o carro de novo e deixar ele suspenso. Efeito da cerveja, talvez... E de repente o carro despencou com as quatro rodas, para o desespero do dono, um dos dirigentes da construtora...

Essa é apenas uma das muitas histórias que o meu amigo Domingos já contou pra gente, segurando um copo de café enquanto esperávamos a hora de testar uma amostra qualquer. Houve a vez em que ele precisou explicar ao guarda que aqueles pacotinhos de pó branco no porta-malas eram apenas amostras de cal. E quando teve que convencer o pessoal da revista da sala de embarque que o Esclerômetro de Shmidt não era um tipo de peça de artilharia! Em sua casa quando nos recebe para o lanche da tarde, nas obras quando a gente se encontra na beirada de uma betoneira, lá na Companhia quando nos visita, o Domingos é sempre o mesmo: Humilde, discreto, sorridente... Sua modéstia sempre escondendo o gigante que ele é no meio técnico do concreto. E, claro, sempre matando a gente de rir com as suas histórias.

Numa dessas visitas ele me encontrou de pé, na frente de um monte de paredes de alvenaria, coçando a cabeça, com cara de “não acredito”. Ele chegou perto, tocou as dezenas de amostras de revestimento, todas perfuradas de ensaios de arranchamento e disse:

_Caramba, que argamassas bonitas...
_É, mas é uma pena que não dão resistência (Eu disse).

_Oque? Você enlouqueceu? Como não dão resistência?

_É, todos esses testes deram insatisfatórios. Tanto os meus, quanto os do Laboratório terceiro. Mesmo nos traços em que eu depositava a maior esperança...
_Pois eu te provo que todas essas amostras aqui passam com sobra!

E não é que ele voltou lá? trouxe o aderímetro desenvolvido por ele (idêntico ao que eu usei, por sinal) e ensaiou seis amostras que eu escolhi, dentre as que não atingiram a resistência. E TODAS passaram. Eu estava meses atrasado com o projeto de pesquisa, já tinha testado 26 variações de traços de argamassa e o que me traiu foi uma simples serra copo. Ele me mostrou que, devido à haste longa da minha serra, eu estava gerando esforços durante o corte das amostras, que as destruíam antes de serem testadas. Ele simplesmente salvou meu dia, meu mês, meu ano inteiro...

Esse é o resultado quando se reúne experiência, competência, conhecimento técnico, humildade e amor à profissão. O Domingos chega e simplesmente resolve. Meu grande amigo! Eu, do fundo do meu coração, desejo a você toda a sorte, força e serenidade nesse momento difícil. E que você se recupere logo, volte lá no Laboratório (agora ele tá de cara nova, você vai ver) pra tomar nosso café ruim e contar pra gente tuas histórias boas.
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domingo, 24 de junho de 2012

Módulo de Elasticidade: Molas, Britas e Equações


Peço licença aos colegas mais bem informados sobre o tema, para fazer uma analogia que tenho o costume de usar, para explicar em meus treinamentos oque é o Modulo de Elasticidade do Concreto (Ec). Todos se lembram do segundo grau, quando a professora de física desenhava o diagrama abaixo no quadro:


Ela explicava que o valor do deslocamento que a mola sofria, era função da força aplicada (m*a) e do coeficiente de elasticidade da mola (k). Ela provavelmente continuava desenhando um segundo diagrama, onde a massa era a mesma, mas o deslocamento na segunda mola era maior, mostrando que seu coeficiente de elasticidade era menor.

O concreto, assim como as molas, também se deforma sobre a ação de forças, sem que isso necessariamente coincida com a sua ruptura. Assim como as molas, o concreto sofre deformação elástica (deforma-se mantendo a capacidade de retroceder à posição inicial) ou plástica (quando não é mais capaz de reassumir a forma original, sessado o esforço). A diferença mais evidente entre as molas e o concreto é a quantidade de deformação possível. No concreto, os deslocamentos são sub-milimétricos quando o esforço aplicado é axial (na compressão, por exemplo). Em termos percentuais não ultrapassa 0,3% (três por mil), atingindo a ruptura neste limite de deformação.

A deformação é pequena, mas existe. E quando do dimensionamento das estruturas, conhecer esta quantidade física é muito importante. Quem já foi em estádios de futebol em dias de jogos, talvez possa dar um testemunho melhor que o meu, sobretudo se estivermos falando do estádio “Mineirão”, famoso por seu balançar próximo ao desconforto nas arquibancadas. E as deformações nas estruturas de concreto são relacionadas, principalmente, a duas grandezas: O momento de inércia, que é função da geometria da peça concretada e o Módulo de Elasticidade, Ec, que pode simplistamente ser comparado ao coeficiente de elasticidade da mola. Ou seja, o Ec poderia ser o “k” do concreto.



Ora, ainda aproveitando a analogia, é perfeitamente esperado que mesmo que duas molas distintas sejam feitas com a mesma quantidade do mesmo aço, tenham coeficientes k totalmente distintos. Basta que hajam diferênças em seu desenho, espessura do fio, ou no modo como oferece liberdade de movimento. O fato é que se deformarão em quantidades diferentes mesmo que a resistência do material que as compõe seja a mesma. Outra verdade é que existem limites inferiores e superiores para essa elasticidade, de modo que existem molas hipotéticas “moles” demais ou “duras” demais para serem produzidas. Parece que com o concreto acontece a mesma coisa.

No primeiro caso, está se tornando um consenso que concretos de mesmo fc (resistência à compressão) podem ter diferentes valores de Ec. Essas diferenças podem ter origens diversas. O Mestre Esdras de França, certa vez investigou como diversas origens mineralógicas usadas como agregados no concreto afetam o Ec. Eu mesmo pude estudar o que acontece quando variamos a granulometria dos agregados e a proporção entre agregados miúdos e graúdos. O que eu vi é que estas variações afetam mais o Ec que o fc. E acredito existirem ainda outras influências como a qualidade da zona de transição, o uso de aditivos plastificantes baseados em dispersão, relação entre a quantidade de pasta e o índice de vazios do esqueleto granular do traço, a adição de materiais pozolanicos e outros parâmetros que afetam também a resistência à compressão. Porem eu acredito que a relação entre tais fatores e o Ec, é bastante diferente.



No segundo caso, a cada dia que passa, eu estou mais convencido de que existem assíntotas inferior e superior para a função que relaciona o fc e o Ec. Analisando a equação proposta pelo Hugo Monteiro, e o trabalho do meu amigo Silvio, posso ver que não importa quão fraco seja um concreto à compressão, ele parece não apresentar um Ec inferior a um dado limite. E não importa quanto se reduza o fator água / cimento em busca de um fc cada vez maior, porque o Ec não vai subir proporcionalmente. A partir de um determinado limite, cada GPa que se eleva no Ec, significa uma demanda maior de Mpa do fc, até que não se consegue subir mais o Ec. Vez ou outra me deparei com traços de concreto que ultrapassaram essas duas linhas psicológicas que vou traçar agora, mas parece que na maioria das vezes o concreto tende a ter um Ec não menor que 20 GPa e não muito maior que 35 GPa (aproximadamente). São valores ainda muito arbitrários, careço enormemente estudar mais o tema, testar muito mais para obter a repetibilidade necessária. Mas se eu fosse propor uma função para relacionar as duas grandezas, (fc e Ec) tenho a impressão que seria como o segmento de uma senóide, em forma de “S”, com limites tendendo a 20 e 35 GPa em duas paralelas às abcissas.

Entretanto, a equação que é proposta pela norma brasileira ainda determina uma relação linear e direta entre fc e Ec, apesar da recente revisão. Mesmo incluindo a recomendação de que a equação apresentada deve ser usada na ausência de experiências de laboratório isso pode muito bem significar que eu estou completamente enganado em tudo que foi dito acima e basta elevar o fck do concreto para se obter valores de Módulo de Elasticidade proporcionalmente maiores. Se assim for, eu estou em uma espécie de enrascada, porque parece que não estou conseguindo. E tenho notícias de outros colegas que também não conseguem obter relações lineares. Então, têm acontecido coisas bastante graves:

1.       Os projetistas determinam o uso de concretos de elevada resistência à compressão, com fck da ordem de 35 a 50 Mpa, com a exigência de se obter valores igualmente elevados de Módulo de Elasticidade, entre 33 e 40 GPa, aparentemente muito difíceis de se atingir;

2.       O comprador omite a especificação de Ec do projeto, na hora de solicitar o concreto, por esquecimento ou por acreditar ser uma simples consequência do fck;

3.       À medida que mudam as conduções de contorno da obra, a concreteira altera o slump, o tamanho de brita e o teor de argamassa do traço de concreto. Faz isso para conseguir bombear cada vez mais alto, mais longe ou em locais menos acessíveis. E faz sem a devida reavaliação do Módulo de Elasticidade;

4.       Durante a negociação, a concreteira oferece à construtora o fck solicitado, considerando que o Ec será atingido, conforme preconizado na norma, sem verificar se está realmente acontecendo.
Então, cabe a todos nós fazermos nossos deveres de casa. O projetista deve se inteirar sobre os limites máximos de Ec que as concreteiras estão obtendo, para não contar com comportamento inatingível pelo material. Nós, concreteiros, precisamos conhecer bem o funcionamento do nosso concreto e tratar como uma responsabilidade adicional e não complementar ao fck. E os construtores precisam entender que nem todo concreto que atende ao fck atende também ao Ec.
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domingo, 17 de junho de 2012

Um pequeno cilindro de concreto



Quando eu trabalhava com construção, comprava a maior parte do concreto que usávamos nas obras. E naquela época, da mesma forma que um grande número de pessoas que compra concreto hoje, achava que a concreteira era obrigada a me enviar os laudos dos corpos de prova por eles preparados e ensaiados e que isso me bastaria. Eu não poderia estar mais enganado. Hoje sei que o ideal é, mesmo quando comprar o concreto, realizar o meu próprio controle tecnológico.

A normalização brasileira, através da ABNT NBR 12655 quando discorre sobre as responsabilidades, atribui ao construtor ou a seu preposto, o papel de realizar os ensaios para aceitação e validação do concreto. Dentre eles esta o ensaio de determinação da resistência à compressão. Neste ponto, é preciso mencionar que a norma foi muito sábia, porque parte do princípio de que mesmo que exista a boa fé, não se pode contar com ela quando o assunto é a segurança estrutural. Em outras palavras, como eu costumo dizer, não se pode perguntar ao padeiro se o pão de sua padaria é saboroso. O mais prudente é pedir a outra pessoa para provar do pão. Se você confia na concreteira que lhe presta serviço, continue confiando. Mas contrate também um laboratório terceiro para a realização do controle tecnológico do concreto.

Para começar os ensaios realizados pela concreteira, na maioria das vezes, são realizados em número insuficiente para cobrir todo o dimensionamento de lotes da tua obra. A norma que orienta o controle tecnológico da concreteira é a ABNT NBR 7212, que discorre sobre os cuidados a serem tomados na produção de concreto dosado em central. Nela, o objetivo do controle tecnológico é determinar se o processo de produção de concreto atende aos parâmetros de qualidade requeridos. Não há análise estatística de cada fornecimento, mas sim do total da produção de um dado período.

Existem vários outros benefícios do controle personalizado (feito por laboratório contratado), como a obtenção imediata dos resultados, a possibilidade de se determinar ensaios em idades iniciais (para planejamento de descimbramento, por exemplo), preparar corpos de prova excedentes por segurança, receber um parecer especializado, enfim, planejar do teu jeito.

Entretanto, o controle tecnológico deve ser deixado nas mãos de uma empresa séria, que garanta que seja bem feito. Do contrário, pode ser o início de um sério problema. Tudo porque, hoje em dia, ainda se dá pouco valor a este serviço. Muitos construtores ainda optam pelo método ou pela empresa de consultoria que requerer o menor valor pela moldagem, transporte, cura, preparação, ensaio e interpretação dos resultados dos corpos de prova. E entre essas etapas, pequenas e cumulativas falhas podem levar a seríssimos prejuízos aos corpos de prova ou ao ensaio de resistência, levando a falsas interpretações e muita dor de cabeça.

Abaixo, seguem alguns cuidados indispensáveis quando o assunto é o ensaio de Resistência à Compressão do Concreto. Cabe ao construtor selecionar o laboratório que irá lhe atender e fiscalizar todas as etapas, tendo estas dicas em mente:

Conhecer o método de ensaio

Em primeiro lugar deve-se conhecer e respeitar as normas que determinam os procedimentos de moldagem e ensaio das provas, no caso as ABNT NBR 5738 e 5739, respectivamente. Recomendo que o construtor tenha exemplares na obra à disposição do corpo técnico e use-as como tema de treinamentos. Os profissionais que irão se responsabilizar pelos corpos de prova devem ser muito bem treinados e fiscalizados. É muito comum, por questões de custo ou carência de mão de obra, o construtor realizar as moldagens dos corpos de prova e às vezes incorporar também as etapas de cura e transporte. Nada contra, mas é preciso ter certeza da perícia e responsabilidade da equipe.

Prover os recursos necessários

É preciso determinar um local na obra específico para a preparação e cuidado das provas. É preciso proteger do sol, garantir um piso plano, fornecer água, equipamentos para limpeza de formas, lubrificantes adequados, e todas as ferramentas requeridas. Deve-se cobrar constantemente a limpeza e ordem do local de trabalho. Além da garantia da qualidade técnica dos ensaios, quando o construtor demonstra a preocupação com este trabalho, através do investimento em uma boa estrutura, os funcionários percebem a importância daquela tarefe e fazem com cuidado. Do contrário, se perceberem que o próprio patrão não se importa com aquilo, eles podem negligenciar procedimentos determinantes para a qualidade.

A coleta das amostras de concreto

Deve-se coletar próximo à metade do volume descarregado do caminhão. O volume de concreto coletado deve ser bem maior que o necessário para preencher as formas de corpos de prova. A coleta deve ser feita direto da calha do caminhão. É muito comum se usar uma pá para desviar o concreto enquanto é despejado na câmara de coleta da bomba, durante o lançamento. Isso favorece a segregação e a amostra coletada não é representativa. Durante a moldagem, a cada novo corpo de prova, o moldador deve misturar novamente o concreto de modo a manter a homogeneidade da amostra. Deve-se realizar a moldagem o mais rápido possível após a coleta do concreto e evitar mantê-lo sob chuva, sol forte ou agentes contaminantes diversos.

Cuidados com os corpos de prova

As formas precisam estar limpas, integras e em conformidade com as dimensões requeridas. A lubrificação é muito importante, para garantir a desforma sem agressões. A sequência de preenchimento, com o correto número de camadas e golpes e a forma de se compactar o concreto é muito importante. O acabamento do topo é imprescindível e para tal eu recomendo a adoção da colher de pedreiro como a ferramenta padrão. Os corpos de prova (CP) moldados devem ser mantidos à sombra e totalmente planos, evitando serem movidos no período correspondente entre o fim de pega do cimento e a idade de 24 horas. A desforma deve ser realizada no tempo certo, nem mais cedo nem com atraso excessivo e sem danos aos CP. A identificação deve ser feita o mais rápido possível para não adiar desnecessariamente a cura.

Transporte e Cura

A cura deve iniciar imediatamente após a desforma. Eu sou partidário de que os CP devam ser transportados ainda dentro das formas e desformados no laboratório. Mas se optar por desformar na obra o construtor deve garantir todos os cuidados inerentes a esta operação, prover um tanque de cura e transportar os CPs o mais tarde possível, próximo da data de ensaio e muito bem protegidos de choques. Para a cura, recomendo o básico: um tanque de água saturada com cal. Já vi experimentos com cura química, mantas umedecidas, aspersão... Esqueçam. Neste caso o mais simples é sempre o mais assertivo.

Preparação de topo

Estamos em uma época em que o enxofre está sendo banido dos laboratórios e substituído por outros métodos. Eu já testei ou observei praticamente todos e posso afirmar que mesmo os que funcionam tão bem como o capeamento com enxofre requerem cuidados adicionais às vezes negligenciados. E comparado com o longo tempo em que o enxofre veio sendo usado, ainda são de certa forma experimentais, guardadas as devidas proporções. Quando o enxofre não for possível, o meu método favorito é o neoprene, na dureza correta, com o “capacete” correto e precedido da retificação mecânica do topo.

O Ensaio

O cuidado com o equipamento é muito importante, como a calibração a manutenção da máquina de ensaio. Mas o mais importante é o Laboratorista. Este deve saber interpretar as minucias do ensaio, como os planos de ruptura dos CPs, a velocidade de carregamento, a centralização do CP no prato da máquina, o momento exato da ruptura total, enfim, deve ser um perito no assunto.

Quando estes cuidados não são tomados, os desdobramentos são muito mais onerosos e desgastantes que o próprio ensaio. Já vi muitas vezes serem lançadas dúvidas sobre a estabilidade de estruturas que estavam perfeitas e a algumas delas vi demolir. É preciso considerar que o custo percentual do controle tecnológico é muito pequeno quando comparado com o custo total de processos como extrações de testemunhos, revisões de projetos e reforços estruturais. Sem falar no desconforto e stress psicológico que é lidar com a dúvida sobre a segurança do teu empreendimento inteiro, por causa de uma coisa tão pequena e aparentemente tão simples como um corpo de prova de concreto.

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terça-feira, 5 de junho de 2012

Vendendo mais que concreto




Uma venda comum é aquela que entrega ao cliente um produto, em troca de um gasto financeiro. Uma venda técnica é aquela que entrega ao cliente uma solução, em troca de um investimento.

No texto anterior, dedicado aos compradores, falei sobre os conhecimentos necessários para se especificar corretamente o concreto. Aqui, quero direcionar o recado para os vendedores de serviços de concretagem, estes tão importantes personagens das concreteiras. Sim, vendedores de “serviços” e não “produtos”, pois é exatamente isso que é um fornecimento de concreto: uma prestação de serviços. E como uma prestação de serviços, deve começar como uma venda técnica. E aí, é preciso se conhecer ainda mais que o necessário para se comprar. É preciso saber identificar as necessidades dos clientes e entregar uma solução técnica. Aí é que está o verdadeiro valor.

Uma boa empresa prestadora de serviços de concretagem precisa investir muito em treinamentos para a equipe comercial se quiser sobreviver e se destacar. E o bom vendedor deve sempre buscar o conhecimento sobre aquilo que ele está vendendo. Costumo brincar que se eu conseguir um emprego para começar amanhã, vendendo raquetes de tênis, pretendo amanhecer o dia um razoável perito em raquetes. E mais, conhecer as regras do esporte, o tipo de calçado mais adequado, os atletas mais destacados, as nuances de cada tipo de piso nas quadras... O vendedor precisa procurar pela informação e não apenas aguardar pelo treinamento da empresa. Em meus próprios treinamentos já me deparei com vendedores que não tinham informações bastante básicas, bastante fáceis de localizar na internet.

Além de todos os detalhes já mencionados na postagem anterior, sobre especificação, os vendedores precisam:

1.       Falar a linguagem do cliente. É muito importante conhecer todos os termos técnicos relacionados ao concreto. O “jargão” dos projetos estruturais, as unidades de medida usadas na construção civil, o significado das siglas usadas. Se o cliente não consegue se comunicar com o vendedor, não se pode estabelecer uma relação de confiança;

2.       Entender como funciona uma obra. O vendedor precisa conhecer, mesmo que superficialmente, as etapas inerentes à concretagem e suas circunvizinhas. Montagem de formas, bombeamento, vibração do concreto, descimbramento, cura. Conhecendo o negócio do cliente, ficará mais fácil para o vendedor identificar possíveis oportunidades de propor soluções e mesmo identificar demandas desconhecidas pelo próprio cliente;

3.       Saber interpretar um desenho técnico. Muitas vezes a negociação se dá ainda na fase de projetos e tudo que se tem é uma planta de formas sobre a mesa. Para se vender bem é preciso saber onde encontrar as informações relevantes, especificações, quantidades de serviços e oportunidades de por boas ideias em discussão;

4.       Conhecer a capacidade técnica e a gama de produtos da concreteira. Durante uma visita técnica à obra ou a avaliação de um projeto, o vendedor pode perceber uma oportunidade de propor um produto diferente, capaz de trazer uma solução melhor;

5.       Conhecer o processo de produção da concreteira. Saber os limites técnicos, as necessidades, a capacidade de volume e adaptabilidade aos diversos produtos. Não se pode prometer o que é impossível cumprir, com os recursos disponíveis;

6.       Entender os cuidados necessários para evitar patologias estruturais e outros possíveis problemas técnicos. No pré-venda, com orientações muito simples, o cliente pode prevenir problemas como, por exemplo, os relacionados a uma cura deficiente, carregamento precoce, contaminações, tempo de pega, etc.;

7.       Ter noções mínimas de controle tecnológico do concreto. No pós venda, ou diante de uma reclamação referente à qualidade do concreto, esse conhecimento pode ser determinante.

Essas exigências não devem, entretanto, desestimular o vendedor que deseja ser um “vendedor técnico”. Porque as habilidades realmente relevantes e difíceis de serem desenvolvidas, ele (ou você!) já possui. São elas que fazem dele um bom vendedor. E algumas delas, como a capacidade de se adaptar, o interesse pelo aprendizado e a força de vontade são justamente as requeridas para se obter todos os conhecimentos técnicos acessórios. É preciso se lembrar de que mesmo o tecnologista da empresa também tem ainda muita coisa pra aprender sobre tecnologia de concreto...

E vale a pena aprender. Aprender significa vender mais, fidelizar os clientes, maximizar os ganhos e minimizar os problemas. Isso vale pra quem vende qualquer coisa, pra qualquer um que precise lidar com seu cliente. Principalmente quando o assunto é concreto!

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sábado, 2 de junho de 2012

Comprar concreto: Basta telefonar?






Para comprar concreto, não basta apenas querer. Infelizmente, é preciso conhecer um pouco sobre o produto. E quanto maior for a tua obra, quanto mais arrojado for o teu projeto, maior será esse pouco a se saber. E quando o assunto é fazer o teu próprio concreto, aí a coisa complica bastante. Seriam necessárias muitas e muitas postagens aqui para cobrir o mínimo. Porque o concreto irá cumprir um papel de responsabilidade grande demais na construção, principalmente se você estiver “apenas” construindo a laje da casa da tua família. É de suma importância que a especificação seja feita de forma estritamente correta, seguindo as recomendações de um Engenheiro inteirado sobre os detalhes do empreendimento.

O primeiro passo é conhecer a normalização técnica. Existe uma norma para projeto de estruturas de concreto, uma norma exclusiva para especificação do concreto, uma norma para execução de estruturas, uma norma para determinar as diretrizes a serem seguidas por uma central dosadora de concreto, normas para padronizar as diversas matérias primas, etc. O acervo é muito numeroso e muito rico, trazendo praticamente tudo que é necessário para uma boa especificação. Estas normas são editadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), através do Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados (CB-18, hoje presidido pela competentíssima e gentil Inês Battagin).

Uma das norma mais importantes que o construtor deve conhecer, não apenas para especificar bem, é a NBR 12655:2006 “Concreto de cimento Portland - Preparo, controle e recebimento – Procedimento” Para começar, esta norma divide os ambientes e os classifica de acordo com o grau da agressividade que estes ambientes imprimem sobre o concreto. E, conforme a intensidade dessa agressividade, são estabelecidos os parâmetros mínimos para garantir a durabilidade das estruturas ali construídas. Hoje, não basta apenas dimensionar as estruturas para suportar cargas, também é preciso prepara-las para durar. Esta norma sofreu sua última revisão, justamente para incorporar este conceito.

Em linhas gerais, o especificador precisa conhecer as seguintes “responsabilidades”, ou seja, os parâmetros a serem obedecidos pela empresa concreteira:

1.       As propriedades mecânicas. Nesta classe estão englobados parâmetros como a resistência do concreto, elasticidade, idade de desforma, etc;

2.       Os parâmetros de durabilidade. Aqui se determina o consumo mínimo de cimento, fator agua / cimento máximo, tipo de cimento a ser usado e qualquer outra condição de qualidade adicional;

3.       As medidas de consistência do concreto. Determinam-se os valores mínimos e máximos de ensaios que auxiliam a medir a trabalhabilidade do concreto, como “slump”, “Slump flow”, funil V, Caixa L, etc, conforme o tipo de lançamento e dificuldades da concretagem;

4.       A dimensão máxima e outros parâmetros granulométricos: Conforme a densidade de armaduras e espessura da peça a ser concretada, os grãos dos agregados devem obedecer a um tamanho máximo. Além disso, algumas operações especiais, como pisos industriais e fundações profundas exigem especificações adicionais;

5.       Condições especiais: É importante se relatar informações mais detalhadas sobre concretagens especiais, diferentes do normal. O uso de equipamentos especiais para o acabamento, a ocorrência de congelamento e degelo, temperaturas de trabalho elevadas, exigências de resistência à abrasão, aspectos estéticos, uso de fibras (marca, tipo e quantidade), concretagem de grandes volumes, toda informação é valida.

Estes conhecimentos são importantes na hora de se especificar o concreto a ser comprado, porque eles podem ser o fator determinante no sucesso do empreendimento. Uma especificação mal feita pode até levar a colapsos estruturais e perda de vidas! A responsabilidade é grande demais e só quem já passou por uma situação de patologia estrutural sabe a dificuldade e o transtorno que é encontrar e implantar uma solução. Reforços estruturais e demolições são um verdadeiro pesadelo financeiro, operacional e de marketing. Já evitar os problemas é simples e relativamente muito barato.

_Mas eu não tenho uma construtora e não estou construindo um prédio. Quero “apenas” concretar a laje da minha casa!

Bom, se você não tem o apoio técnico de um engenheiro (deveria!) Então precisa procurar uma concreteira que lhe ofereça o suporte necessário. Já existem opções de empresas no mercado que colocam à disposição dos pequenos clientes pacotes de serviços que lhe darão a segurança e garantia que precisa, com exclusividade.

_Eu tenho uma construtora pequena e não temos um departamento de planejamento que conte com especialistas em tecnologia de concreto...

Então, você pode contratar uma consultoria para te ajudar a especificar o concreto. E um consultor poderá ser imprescindível, no caso de concretagens especiais, estruturas complexas ou onde o grau de agressividade é maior. Ele poderá, ainda, atuar em conjunto com a concreteira opinando e fiscalizando o desenvolvimento do traço de concreto. Ele poderá treinar sua equipe de campo, te ajudar a preparar procedimentos para especificação e controle tecnológico e analisar projetos, propostas técnicas e licitações. Acompanhamento das concretagens, planejamento de ensaios, validação de laudos, enfim, ele irá garantir um sono tranquilo para você e sua equipe.

Então, durma tranquilo. Faça a coisa certa!
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